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Departamento de Toxicologia do Hospital João XXIII alerta sobre o uso de produtos cáusticos

Acidez, alcalinidade e alto poder corrosivo. Muitas pessoas não sabem, mas produtos com essas características dentro de casa e ao alcance de crianças, representam grande ameaça. Acidentes causados por esses produtos fazem parte das estatísticas de atendimento no Hospital João XXIII, da Rede Fhemig. E, mais uma vez, os profissionais do Pronto-Socorro alertam que são casos que podem ser prevenidos pelos adultos.

Dados do setor de Toxicologia do Hospital João XXIII, referência em Belo Horizonte e no Estado, revelam que, em 2008, foram atendidos 200 acidentes provocados por elementos cáusticos. Desse total, 50% são provocados por hipoclorito de sódio, elemento comum de uso doméstico. Acontecem principalmente com crianças de até cinco anos de idade, que representam 30,4% dos casos. Neste ano, até agosto, já foram registrados 135 atendimentos decorrentes de lesões cáusticas. Segundo a Toxicologia do HPS, a soda cáustica é responsável pela alta taxa de mortalidade entre esses pacientes.

É com essa preocupação que a Fhemig oferece sua parceria na realização do II Fórum de Ingestão de Produtos Cáusticos, que acontece nesta sexta-feira (25) no Ouro Minas Palace Hotel, em Belo Horizonte. O evento será composto por diversas palestras, além da apresentação dos protocolos de atendimento, de crianças e adultos, na fase aguda de ingestão de produtos cáusticos, discutidos no I Fórum. O objetivo é avaliar as medidas estabelecidas no ano passado e trazer novas propostas para a situação atual.

Os acidentes citados no fórum são causados por produtos domésticos comuns, que contêm substâncias cáusticas como, “desentupidores”, “limpa-forno”, soda cáustica, entre outros. Esses produtos provocam queimaduras cutâneas, além de, quando ingeridos, destruírem os tecidos orgânicos do esôfago e do estômago.

O médico chefe de endoscopia Infantil, Paulo Fernando Souto Bittencourt, do Hospital Infantil João Paulo II, da Rede Fhemig, é um dos idealizadores do fórum. Ele conta que o evento foi criado com o intuito de estabelecer um protocolo clínico que seja referência nacional. Além disso, sua realização tem objetivo político, visto que no Brasil não há a regulamentação da venda desses produtos. O fórum deste ano vai discutir o Projeto de Lei 4.841-A/94, que propõe a regulamentação. O primeiro fórum revelou que centenas de novos produtos domissanitários (substâncias ou preparações destinadas à higienização) são introduzidos no mercado anualmente sem o cumprimento adequado da legislação, o que transforma o lar em fonte inicial do problema.

Bittencourt ressalta que a ingestão de produtos cáusticos é um problema freqüente, principalmente entre crianças menores de cinco anos. Esse quadro demanda internações de alto custo, cuidados multidisciplinares em longo prazo e alta morbidade. Ele chama a atenção para a importância do encaminhamento imediato da criança para uma unidade de emergência quando ocorre a ingestão do produto. “É essencial que o paciente não tome nenhum líquido, pois, ao engolir, ele pode causar vômito e, se o ácido voltar pelo esôfago, danifica ainda mais o tecido”, acrescenta o médico, que também alerta quanto ao armazenamento dos produtos de limpeza doméstica em locais impróprios. “O ideal é que as pessoas não tenham produtos de alto poder corrosivo dentro de casa. Caso tenham, é recomendável que sejam guardados em locais fora do alcance de crianças, para evitar o pior”.

Acidentes causam danos que dificilmente são revertidos

O soldador Ricardo Gonçalves, da cidade de Três Marias, está passando por esse drama. Seu filho de um ano e nove meses ingeriu soda cáustica há um mês e meio e desde então ele tem sido submetido a um tratamento doloroso para a recuperação da parte intestinal. Ele conta que sua esposa estava fazendo sabão – prática comum em algumas casas que misturam gordura velha com soda cáustica – quando o garoto ingeriu a soda acidentalmente. Imediatamente, a mãe o levou ao hospital da cidade, onde foi feita uma radiografia que não identificou a ingestão do produto. O pai conta que ficou cerca de 20 dias insistindo em levar a criança ao hospital da cidade, pois a mesma apresentava quadro de dor e não conseguia engolir nem a própria saliva. Com a demora para o encaminhamento a um hospital da capital, os tecidos foram severamente danificados.

O menino foi recebido no Hospital Infantil João Paulo II, onde fez o exame de endoscopia que constatou a lesão. Ele começou o tratamento e ainda se encontra internado na unidade. “Temos esse costume de fazer sabão lá em casa, sempre tivemos cuidado, mas, por uma questão de segundos, aconteceu o acidente”, desabafa Ricardo, que acompanha o tratamento do filho. As lesões cáusticas são graves, com grande risco de perfuração do esôfago nas primeiras horas do acidente (fase aguda), evoluindo, em sua maioria, para estreitamento e tortuosidade do órgão (fase crônica). Esses acidentes necessitam de rápida avaliação e conduta para reduzir as complicações e melhorar o prognóstico do paciente.

O tratamento nesses casos, segundo Paulo Bittencourt, tem como objetivo, sobretudo, manter o esôfago distendido, já que, com as queimaduras, ele se fecha e dificulta a alimentação do paciente. Ao longo dos anos, esse tipo de paciente pode desenvolver outros problemas, tendo 17 vezes mais chances de ter câncer de esôfago e/ou estômago. “É um tratamento por meio de endoscopia que dura anos. Em casos mais graves, é preciso cirurgia para extrair o esôfago. Usamos uma parte do estômago ou do intestino para reparar a parte lesada”, explica o pediatra, que cita o caso de uma criança que ingeriu soda cáustica quando tinha um ano e que está internada no Hospital Infantil há 13 anos. A parte digestiva do paciente não suporta a alimentação e ele tem de se alimentar por sonda.

O II Fórum de Ingestão de Produtos Cáusticos contará com a presença do presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia, Délio Campolina; do membro da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva Roberta Nogueira Sá e da pediatra e membro da Sociedade Mineira de Pediatria Marislaine Lumena de Mendonça. Estarão presentes também o vice-prefeito da capital, Roberto Carvalho, e os deputados Délio Malheiros e Adelmo Leão, para discutirem a criação de lei que regulamente a venda de produtos cáusticos. O fórum, criado em 2008, é considerado referência nacional na área e vai reunir cerca de 50 profissionais.